Durante a primavera de 2019 escrevi um artigo intitulado Ou Controlas a Profundidade ou Morres. Eu só queria saber o que sabia sobre o tema. Queria ver onde estavam as minhas dúvidas e onde não estava nada. E para isso, escrever não tem rival.
"You don't just write to share what you think. You write to discover what you think in the first place." - David Perell
Escrever sobre futebol > pensar sobre futebol
As surpresas sucediam-se. Há o pensar sobre futebol. Há o falar sobre o futebol. E depois num nível muito acima, há o escrever sobre futebol. Eu achava que os benefícios deste exercício seriam os desenhos que acabaram por aparecer no artigo, mas estava enganado. O verdadeiro luxo é quando entendes algo novo sobre o jogo porque estavas a pensar na melhor maneira de traduzir em palavras uma ideia frágil, pobre, e se calhar até descontextualizada.
Sem pôr no papel aquilo que julgamos ser à prova de bala pode ser suficiente, mas as nossas ideias ficam só por aí, à prova de bala, mas não à prova da caneta.
A qualidade das ideias no campo e no papel
Ter escrito as minhas ideias sobre o Controlo da Profundidade foi caso único. Amostra mais pequena não há. Como qualquer treinador tenho muitas ideias, e todas em estados diferentes de maturação, de validação, de crença. Posso ir com elas amanhã para um treino e para um jogo e terei um determinado resultado. O processo vai por as minhas ideias na ordem. Assim eu saiba atender às lições de cada confronto e de cada desafio.
No entanto, agora estou convencido que não precisa, e não deve(?), ser no relvado a primeira vez que essas ideias são postas à prova.
Eu sei que quero que os meus laterais fechem por dentro quando a bola está em posse do adversário no corredor oposto. Muitos treinadores querem. É uma ideia. Posso idealizar um exercício para trabalhar sobre esse comportamento e pô-lo no treino. Eu acho que sei o porque é que quero que os meus laterais façam isto. Eu acho que consigo prever algumas situações que irão causar problemas aos meus laterais. Eu acho que tenho os feedbacks mais úteis preparados para caso surja esta ou aquela situação. E até posso achar bem. Mas considerem a alternativa.
A alternativa é eu escrever sobre que intenção é esta que tenho para os meus laterais. Consigo pôr isso numa só frase e ao alcance de qualquer atleta entender? E noutra frase o porquê? Será que se eu dedicar 30 minutos a este exercício tenho uma frase de adulto no final, muito mais curta e clara, do que se calhar a frase de aluno de 7º ano que escrevi no início. Os jogadores irão notar a diferença e agradecem. E nós treinadores, orgulhosos, de as coisas começarem a encaixar em muito menos tempo do que imaginávamos também.
O jogo começa quando acabam de escrever sobre ele
O artigo de que falei no início foi publicado no 11 Médios há mais de um ano e de lá para cá foram mais de 2400 visualizações. No passado mês de junho foram (ainda!) mais de 100. Este é o segundo grande incentivo para escrever. Podem mexer com alguém e com as suas equipas. Há treinadores que me confidenciam que estão a usar o artigo para planear as suas pré-épocas.
Como é que não vais escrever?
Se eu conseguir melhorar o meu processo de treino, e até como treinador, 1% por causa do que escrevo já vale muito a pena. Que futebol seria esse em que todos estávamos 1% mais preparados?
Fico curioso e o Este Meu Jogar é um passo nessa direção.