Somos biliões os que gostamos de futebol.
Desses, um pouco menos, os que gostamos de jogos. E finalmente, num terceiro nível, estamos uns quatro ou cinco que apreciam as regras com que se jogam. Ora, umas regras que se prezem tem de conter, pelo menos, estas três secções:
- o material necessário para jogar;
- o que podes e não podes fazer no jogo;
- como é que se determina o vencedor.
Independentemente de pertencer a um ou a todos os grupos que mencionei em cima, isto é algo que nos é familiar se pensarmos nas características que definem aquilo que é um jogo, assim como aquilo que distingue cada jogo dos demais. Altura então para apresentar Juan Manuel Lillo que, entre tantas coisas que lhe podemos chamar, é treinador de futebol. Certo dia, resolveu sair-se com a seguinte frase sobre o jogo de futebol:
(el reglamento) “El mejor libro de táctica jamás escrito” - Juanma Lillo
Depois de anos de ir e vir a esta frase, ou não percebi nada do que o Juanma quis dizer, que é muito provável, ou então, segundo ele, nas 17 leis do jogo de futebol, i.e. no meio daquela parafernália de material estão também instruções sobre como jogar melhor o jogo. E se estão a pensar descarregar o manual à procura das partes de jogar melhor a sublinhado desistam, que não vão encontrar. Nem sem sublinhar. E sabem que mais? A melhor parte da frase nem é o que diz, é o que não diz.
Não nos dá o peixe, mas ensina-nos a pescar. Ou pelo menos diz-nos onde é que o peixe pode ser pescado. Tão bom.
A procura pelos segredos escondidos nas leis do jogo
Lá fui eu pescar e de entre muitas coisas que encontrei, saiu este artigo, cujo principal objetivo é demonstrar como uma lei do jogo, a infame lei 11 do fora de jogo, oferece muitas páginas para o melhor livro de tática jamais escrito.
O nosso ponto de partida é o que faz um jogador estar em fora de jogo. Simplificando, será estar no meio campo ofensivo com menos de dois adversários entre si e a linha final (quando a bola lhe é endossada).
Quando em fase defensiva (organização, transição ou bola parada), é a altura da linha defensiva de uma equipa que determina o espaço que (não) dá ao adversário à frente (assumindo que todas as linhas ajustam entre si), dentro e atrás do seu bloco.
E nem vale a pena tentar que esta manta tape tudo: que se tenha superioridades numéricas em todo o campo ao mesmo tempo, que se pressione alto e se consiga eliminar qualquer possibilidade de atacar as nossas costas sem deixar espaço entre linhas. Mas podemos fazer algo muito próximo disso. Podemos tapar os espaços onde a bola pode ser jogada, como por exemplo, à frente das nossas linhas, e destapar onde não, que segundo a lei 11, será o espaço entre o elemento mais recuado da nossa linha defensiva e o guarda-redes.
A esta gestão de espaços chamamos de Controlo da Profundidade, e independentemente da forma como a tua equipa jogue, das suas qualidades coletivas e individuais, do seu momento físico ou emocional, de uma coisa podes ter a certeza, ou preparas com muita qualidade este princípio ou até o mais frágil dos adversários te vai matar.
Como ser protagonista (também) sem bola?
Se falamos de Controlo, falamos de domínio, de vigilância, e principalmente de ter uma certeza que todas ações que se desenrolam num determinado espaço tem o seu resultado determinado por nós.
Estes comportamentos de Controlo da profundidade visam primeiro dissuadir o adversário de tentar jogar no espaço entre a nossa linha defensiva e o guarda-redes, e em segundo, caso seja tomada a decisão de lá jogar que o nível de dificuldade da execução se torne o mais alto possível.
É que mesmo sem bola, uma equipa que seja proactiva na recuperação da mesma através da pressão sobre: a) o portador, b) possíveis recetores, c) linhas de passe, d) zona da bola, também o pode ser, até bem longe da bola, encurtando o campo subindo a linha defensiva e diminuindo o espaço do terreno de jogo para metade.
Em jogo, como podem então os jogadores determinar o valor dos espaços? Quais a defender e quais a libertar? A que altura posicionar a linha defensiva? E baseado-se em que estímulos? (Como é óbvio, se estamos a falar em controlo de espaços, estamos automaticamente a dizer que não há uma resposta definida que os jogadores levam para dentro de campo desde a palestra. Não existe alinhar pela altura do banco de suplentes ou pelo circulo central. Ou melhor, até podem sair com essa instrução, não lhe podem é depois chamar controlo de coisa alguma)
De que critérios os jogadores se podem servir para detetarem essas oportunidades de o adversário progredir para espaços mais perigosos e que servem de referência aos comportamentos (do individual ao sectorial) de Controlo da Profundidade?
Eu proponho estes 8:
- Bola coberta ou descoberta
- Situação de jogo (Bola parada/corrida/Reposição de bola em jogo)
- Zona da bola
- Direção do movimento da bola
- Distância do movimento da bola
- Orientação do jogador em posse
- Jogadores adversários na última linha defensiva (dependendo das suas características) enquadrados para explorar a profundidade
- Leitura das intenções do adversário em posse
O impacto nos macro-momentos do jogo
Cada um destes critérios dificilmente tem valor em jogo quando interpretado isoladamente. Por exemplo, um adversário ter a bola à entrada da nossa grande-área é uma coisa com este orientado para a nossa baliza e outra orientado para a sua. Como se interligam então todas estas referências? Será justo dizer que o momento do jogo, i.e., bola parada, reposição de bola em jogo ou bola em jogo, é a primeira referência na qual todas encaixam? A três momentos diferentes, na mesma zona, com os mesmos jogadores correspondem abordagem bem diferentes.
De forma a manter este tema enquadrado com a maioria das ações do jogo, irei focar-me apenas nos momentos de bola corrida.
Bola coberta vs Bola descoberta
Começando pela referência, normalmente, mais associada com o Controlo da Profundidade: a bola coberta/descoberta. É também, em princípio, a referência mais óbvia de interpretar. Se o portador da bola tem um adversário pela frente em contenção, terá muito mais dificuldade em poder atacar a profundidade com um passe por duas razões principais:
- É mais difícil que consiga visualizar o espaço que existe na profundidade, e eventuais desmarcações de companheiros. É no momento da contenção que o portador tem mais tendência proteger a posse da bola, procurando referências visuais quer para a posição da bola quer para a posição corporal e dos apoios de quem sai na pressão, diminuindo ainda mais a tendência para “mirar lejos”;
“Mirar lejos. Lo primero que nos pedía Johan es que mirásemos lejos, a Romario” — Pep Guardiola
- Se por ventura decidir colocar a bola em profundidade, o nível de dificuldade do gesto técnico será muito superior, quer por trajetórias que já não estão disponíveis, quer por poder haver a necessidade de tirar o adversário da frente antes de fazer o passe.
Assim sendo, se sabemos que um adversário com contenção tem muito menos probabilidades de poder servir um companheiro com sucesso na profundidade, será vital assumir um ou outro comportamento, por parte linha defensiva, dependendo da bola estar ou não “coberta”.
Neste exemplo de boa coberta, verificamos a interação com outra das referências do Controlo da Profundidade: a zona da bola. A consequência é sobretudo para a forma como os elementos da linha defensiva orientam os seus apoios. Como a maior probabilidade dos defesas, a terem que reagir, é para sair na contenção (em virtude do adversário ultrapassar o 1º defesa) e não para recuarem a responder a uma bola nas costas, os apoios estão orientados na direção da bola e de uma eventual saída para pressionar.
Aumentando a complexidade do exemplo, e imaginando que o nosso adversário consegue progredir, ainda que mantendo o grau de dificuldade elevado para tentar atacar a profundidade, entra em ação uma terceira referência: a direção do movimento da bola. A altura da nossa última linha defensiva baixa para manter uma distância válida de cobertura — se a progressão for no sentido da nossa baliza — ou mantém altura e bascula se a progressão for num sentido mais horizontal (mais detalhe à frente sobre a referência da direção do movimento da bola).
Até aqui tudo parece simples.
Quando a bola fica descoberta é que as coisas ficam mais interessantes. Quando a qualquer momento há condições para a bola ser colocada atrás da nossa linha defensiva, e não controlarmos esse momento, estamos a embrulhar o ouro com um laço cor de rosa e entrega-lo ao bandido. É por isso que aqui começam as dores de cabeça, e começa também a vir ao de cima a qualidade do trabalho sobre a fase defensiva durante o treino. São várias as referências que interagem entre si e que podem servir para ajustar das mais diferentes maneiras.
Como dores de cabeça não são produtivas, e para tentar simplificar as minhas ideias, procurei ir aos princípios mais básicos, e no futebol, para mim, em caso de dúvida é a bola a minha estrela polar.
As referências da zona da bola
Um adversário com bola descoberta junto à linha lateral dentro do seu meio campo defensivo obriga a um comportamento bem diferente de que o mesmo adversário, com bola descoberta, no corredor central e à entrada da nossa grande área. Não me digas Sherlock? Ainda assim, na tentativa de estabelecer em que áreas proponho que comportamentos, dividi o terreno de jogo da seguinte forma.
Em duas grandes áreas (laranja e vermelho), identifico três tipos de situação. Vamos por partes.
- Com a bola na zona laranja ou à frente da nossa linha de médios/avançados defendemos o espaço, isto é, procuramos, ativamente, limitar o espaço onde o adversário joga (portador) e onde pretende vir a jogar (recetor).
O Controlo da Profundidade é um produto desta intenção e não o contrário.
O principal comportamento que daqui advém é uma predisposição defensiva para um lançamento na profundidade: autoidentificar quem da linha defensiva vai disputar a bola e fazer 3+1, garantindo a distância de cobertura e não cair nos movimentos de arraste dos avançados.
Com bola nas zonas mais recuadas do adversário e por fora do nosso bloco, como neste exemplo, há mais espaço nas nossas costas para ser explorado/controlado, mas também mais tempo para ver, decidir e atuar, para além de que mais longe da nossa baliza o adversário vai receber a bola (se algo falhar). Neste caso, apesar do portador ter todas condições para jogar nas costas da defesa, nenhum dos seus companheiros está com os apoios orientados para poder ameaçar profundidade. A nossa resposta? Orientarmos os nossos apoios para o eixo bola-baliza e manter a altura.
No momento seguinte, os adversários já se encontram prontos a explorar a profundidade, e, como detetamos que está iminente o lançamento, já retiramos profundidade a trote.
Por fim, o passe longo que esperávamos. No momento em que o portador coloca o pé de apoio imediatamente antes do passe, baixamos em velocidade. Durante o movimento da bola, cada membro da última linha tem que se autoidentificar se é quem vai disputar o duelo (se for caso disso) ou se vai fazer parte da linha de cobertura mais atrás. Decisivo esta linha de cobertura atrás de quem disputa a primeira bola, assim como uma segunda linha de dois, atrás de quem for disputar uma segunda bola “penteada”.
- Com a bola entre a linha defensiva e linha média, com portador de frente para os nossos defesas, a decisão já não é só manter/subir/baixar, mas também “quem de nós sai na contenção? e quando?”. O principal comportamento passa por temporizar para chegarem as ajudas e garantir concentração da linha defensiva. A partir daqui tudo muito semelhante ao ponto anterior:
- autoidentificar quem sai ao portador;
- garantir uma linha de cobertura com os restantes elementos;
- não cair nos movimentos de arraste dos adversários em cima da nossa última linha.
Com mais um pormenor de diferença, na eventualidade do portador iniciar uma tabela, quem saiu na contenção acompanha o movimento de desmarcação, já que como normalmente acontece nestes casos, o mais provável é não chegar a tempo ao 2º homem antes que este devolva o passe ao 1º, o que neste exemplo pode significar um 1xGR.
Num primeiro momento, o portador só com a linha defensiva pela frente e com tudo para ameaçar a profundidade, mas novamente sem adversários que possam servir de potencias recetores atrás da nossa linha. Sai um elemento na contenção (e a importância de tentar sempre orientar o portador para fora do corredor central), os restantes concentram atrás em cobertura, orientam os apoios, mas mantém altura.
Quando no segundo momento, a bola é endossada a um segundo adversário, também só com a nossa linha defensiva pela frente, mas agora com potenciais recetores na profundidade o caso muda de figura. Até ao momento em que o novo portador não tem contenção, a ameaça é iminente e toda a linha retira profundidade, até que se reúnem as condições para sair um elemento na pressão. Decisivo aqui a articulação de distâncias do 3+1, para que não se isole quem sai na pressão — que pode facilmente ser fixado e tabelado — mas ao mesmo tempo que não se dê a profundidade necessária para que um adversário se isole entre defesa e guarda-redes.
- Nesta última situação, a bola está na “zona vermelha”, nos últimos 20m, e o perigo não vem só de um passe para as costas, mas de qualquer portador que tenha uma fração de segundo ou espaço. Isto leva a que as prioridades mudem ligeiramente, e olhar à zona só é um erro, porque até o mais incapaz dos portadores num lance de sorte pode enviar a bola na direção do golo. Espaço, sim. Baliza, sim. Adversário, sim.
A nossa principal prioridade é defender a baliza. E podemos e devemos faze-lo de duas formas (redundância essencial dos sistemas mais críticos):
- garantido constante pressão sobre o portador da bola;
- protegendo o espaço no enquadramento dos postes pelos restantes elementos da linha defensiva. Estes elementos mais reativos, que protegem o espaço frontal à baliza, acompanham sempre o movimento e altura da bola até à linha da pequena área, momento em que passamos a confiar no raio de ação do guarda-redes em primeiro lugar, e só em segundo caso são os defesas que tomam a iniciativa dentro desse espaço.
Neste primeiro momento, o portador sem contenção, tem a hipótese de alvejar a baliza, mas também de servir um companheiro com um cruzamento. A linha defensiva está alinhada pela bola, visto que um defesa foi ultrapassado e ainda não saiu ninguém na contenção (o defesa mais próximo tem um “par”, se sai na pressão sem que alguém faça a devida compensação, o adversário que está nas suas costas fica livre para receber e fazer o golo). Aqui mostra-se também a importância de tentar perceber a intenção do adversário em cruzar ou rematar por parte de quem vai sair na pressão.
Neste instante já temos adversário com contenção, e a devida compensação pelo companheiro ultrapassado. Quem faz contenção tem a leitura de um eventual remate ou cruzamento que lhe pode enriquecer no detalhe o seu posicionamento, nomeadamente tapando a linha de passe do cruzamento, ou um ângulo diferente do guarda-redes se adivinhar o remate. Os restantes elementos da linha defensiva alinhados em função da cobertura e linha da área e os apoios orientados de forma a garantir três coisas de uma só vez:
- ver a bola;
- ver os adversários potenciais alvos de um cruzamento;
- subir rapidamente em caso de um passe atrasado que o permita (mais detalhe sobre o que permite subir num passe atrasado já a seguir).
As referências do movimento da bola
Depois da zona da bola, olhamos para o movimento da bola, quer com portador, quer em passe, a distância que percorre e o seu sentido determinam vários tipos de resposta diferentes.
Em condução
Um adversário, em condução, tem três tipos de sentido principais:
- Em direção geral à nossa baliza;
- Em direção geral à linha lateral;
- Em direção geral à sua própria baliza.
Em função disto, procuramos ter três comportamentos base para cada uma das três situações.
Em situações de passe, todas as referências do Controlo da Profundidade com o adversário em condução também se aplicam, mas adicionamos mais uma, a zona de destino do passe, mais concretamente, onde é que entra em relação ao nosso bloco.
Passe horizontal
Neste exemplo em que, com bola coberta, um passe horizontal a mudar o centro de jogo é a alternativa mais comum, é a distância do mesmo que informa os principais comportamentos. A bola após o passe não estará mais próxima da baliza, e para além disso, o potencial recetor não está em condições de a receber atrás da nossa linha. Sendo assim, o comportamento principal é manter a altura, bascular, e concentrar novamente sobre a zona da bola.
Especial atenção para os passes que saem e entram no corredor lateral, já que provavelmente haverá um lateral a sair/entrar dentro da linha defensiva e a correspondente gestão das distâncias de cobertura.
Neste segundo exemplo, temos um adversário a ameaçar a profundidade no flanco oposto ao da bola. Para além dos comportamentos sectoriais, é decisivo o posicionamento do lateral desse lado, que muitas vezes tem a tendência para se perder na referência individual fruto do dilema: dar espaço ao extremo para receber, enquadrar e partir com vantagem para o 1x1 ou aproximar, dissuadir um potencial passe para esse adversário, mas abrir espaço no corredor central e deixar os centrais em igualdade numérica.
Mais uma vez em caso de dúvida: a bola, considerar os vários estímulos, e tomar a melhor decisão em função daquilo que podemos controlar. Estando orientado para a bola, como no exemplo, não invalida que vigie o extremo, mas também caso e a bola seja jogada nesse flanco o lateral tem tempo de reagir enquanto a bola se desloca e ainda chegar à contenção. As vantagens compensam as desvantagens:
- Controla movimentos de penetração pelo corredor central e nas costas do central;
- Está melhor orientado para partir em velocidade na direção da profundidade caso haja o lançamento;
- Resolve os problemas de forma coletiva, estando ligado ao sector sempre que for preciso intervir.
Passe atrasado
Usado para sair da pressão, para iniciar uma mudança de centro do jogo, mas também como engodo! Fazer a linha defensiva sair da toca, desorganizar-se e aí explorar a profundidade. Daí eu ter mencionado atrás, o sair num passe atrasado se este o permitir. As condições mínimas para o nosso bloco subir em resposta a um passe atrasado são:
- O recetor do passe está fora do nosso bloco (muito provavelmente é um passe dentro/para o meio campo defensivo);
- A equipa está junta (“viajar juntos” só quando estivermos todos).
Nestes dois exemplos, a diferença que faz a bola sair ou não de dentro do nosso bloco após o passe atrasado. No diagrama do lado esquerdo, subir o bloco seria diminuir o número de jogadores nos espaços úteis de recuperação da bola OU desequilibrar a nossa estrutura para a transição ofensiva. Já no exemplo do lado direito, no momento em que a bola “viaja” a equipa pode subir em bloco até à linha de meio campo (sem correr o risco de ser apanhada em contrapé). Se sobe, é preciso preparar o momento em que o novo portador recebe a bola e já ter os apoios orientados, precavendo um envio imediato na profundidade.
Quando o portador só tem a linha defensiva pela frente e faz um passe atrasado não quer dizer que automaticamente a linha vai subir em bloco. Aliás, esse pode mesmo ser um dos efeitos pretendidos e libertar alguém que vem num movimento detrás para a frente. Só queremos que a nossa linha defensiva ganhe altura quando a distância para o recetor do passe permitir reagir caso a bola fique descoberta.
No diagrama da esquerda, um passe atrasado curto, deixa a bola num novo portador e descoberta. No tempo que demora a bola a chegar a este novo portador (orientado e sem pressão que impeça um cruzamento para a zona entre a linha defensiva e o GR), se a linha defensiva for a ajustar e subir, é muito provável que no momento em que tenha de voltar a ajustar por a bola estar “descoberta” esteja “inclinada” na direção oposta e seja apanhada em contrapé.
No exemplo à direita, com duas alternativas, um passe atrasado longo (2), ou curto para um jogador pressionado (1), a linha defensiva sobe durante o movimento da bola, antevendo ao mesmo tempo em que situação o novo portador vai estar quando a receber, isto é, desde logo preparados para a nova situação quando o novo portador receber a bola (apoios — altura — espaçamentos dentro do sector).
Passe frontal
Uma solução de quebra de linhas por excelência, mas que tem um senão de muitas vezes deixar o portador de costas para a baliza para onde ataca. Como explorar este momento, sendo proactivos, mesmo sem bola? As perguntas que se fazem à última linha defensiva são mais que muitas durante um passe para dentro do nosso bloco defensivo.
- Está o novo portador (de costas) pressionado quando vai receber o passe?
- Conseguimos chegar e pressionar antes que o adversário possa enquadrar?
- O adversário tem soluções “fáceis” de 3º homem que possa explorar a reestruturação do nosso sector defensivo?
- Existem adversários a ameaçar a profundidade e potenciais beneficiários do adversário que recebe de costas ou do 3º Homem?
A primeira referência é o da distância do novo portador para o nosso jogador mais próximo de o pressionar. É percebendo se conseguimos dificultar a sua receção e enquadramento que podemos determinar os restantes comportamentos, como por exemplo pressionar ou baixar.
Para tentar simplificar as minhas ideias neste momento de várias perguntas e respostas achei útil criar alguns fluxogramas que ilustram as três diferentes respostas para a conjugação de referências durante um passe frontal para dentro do nosso bloco defensivo (neste caso o recetor está entre a linha média e a linha defensiva).
Conclusão
Esta são as minhas propostas teóricas para os princípios táticos do Controlo da Profundidade. O melhor que me podia acontecer era fazer-vos refletir e que partilhassem as vossas conclusões ou outras propostas sobre este tema. Ou melhor, reflitam, escrevam e partilhem sobre qualquer tema. Não fazem ideia das coisas que vão descobrir.